...contra o especismo e/ou pelos direitos dos animais
Abaixo, uma seleção de sites e artigos que têm retido nossa atenção e que recomendamos a leitura. Os curtos extratos citados não resumem o conteúdo; estão lá apenas para indicar de que tipo de texto se trata.
A redação
Um projeto em construção em torno de uma idéia simples e forte, daquelas que, às vezes, impulsionam grandes coisas. Extrato:
«Não é chegado o tempo da abolição da carne?
Por que não fazer desta pergunta - grande em aparência, entretanto tão simples – um objetivo organizador do movimento animalista mundial?
Certamente, é necessário continuar a descrever, fazer sentir, e denunciar os sofrimentos e privações suportados pelos animais. Faz-se necessário continuar pedindo a interdição das práticas julgadas como as mais chocantes: gaiolas minúsculas, mutilações, engorda, touradas, ... Faz-se necessário continuar a promover a realidade e a importância da sensibilidade dos animais, como a nossa. Continuar a pôr em causa o especismo. Promover o vegetarianismo e o veganismo.
Mas isso não é suficiente.
Tornou-se inconveniente não exprimir claramente o pedido político de abolição da carne.
Não ousamos mesmo formular este pedido, tanto ele nos parece irreal. Sobretudo, tememos passar por fanáticos que querem impor suas idéias aos outros.
Estamos errados. Errados por crer que um comedor de carne é um defensor dos abatedouros. Errados por supor – sem saber – que a sociedade ainda não estará pronta para escutar este pedido, e ainda menos pronta para debatê-lo.
No século XVIII, a escravidão de humanos era legal, e uma peça mestre da economia colonial. Parecia então irreal imaginar a abolição desta prática universal e milenar. Inspiremo-nos nos ativistas de então, que se organizaram para torná-la ilegal.
É a nossa vez de trabalharmos, cada um do nosso modo, em uma vasta campanha mundial para a abolição da carne.»
Uma lista de discussão foi criada para dar vida ao projeto, aberta àqueles que desejam promover pacificamente a reivindicação política da abolição da carne. Para inscrever-se, acesse:
http://fr.groups.yahoo.com/group/ab...
Um documento notável pela clareza das idéias, extensão de temas abordados e riqueza da documentação (estatísticas, fotografias, vídeos, resumos de artigos). Interessante e acessível tanto para os novatos quanto para os iniciados em matéria de reflexão sobre a questão animal. A ser amplamente difundido. Trecho da conclusão:
«Eu acrescento, da mesma maneira que Helmut Kaplan, que, assim que nossos netos nos perguntarem: “Mas na sua época, você sabia que tudo isso existia, não sabia?”, e respondermos “sim” com um aceno envergonhado de cabeça, é necessário que esperemos a pergunta seguinte, um pouco como uma sentença: “Mas então por que você não fez nada?”
Faço um simples pedido para aqueles que descobrem a amplidão da exploração animal. Se houvesse apenas uma coisa a ser lembrada após o que eu disse, gostaria que isso ficasse como duas perguntas. Gostaria que cada vez que você visse um animal sendo utilizado pelos homens, você perguntasse:
- primeiramente, se o que ele faz é do interesse do animal;
- segundo que se não for do interesse do animal, se há uma verdadeira justificativa o que está sendo feito.
/.../
Se, como aconteceu comigo, chegou o momento em que você não conseguirá mais cultivar a indiferença face à escravidão destes bilhões de animais, não conseguirá mais justificar o massacre cotidiano desses milhões de indivíduos para a satisfação de nossos interesses mais insignificantes, então talvez você pensará como eu, que esta exploração é indigna do nível de civilização que fingimos ter alcançado, e deve ser abolida.»
Trata-se da transcrição de uma conferência-debate realizada no dia 5 de março de 2005, no IEP (Instituto de Estudos Políticos) de Lyon. Ela tem como pano de fundo a campanha pela abolição do patê de fígado de ganso (http://stopgavage.com). Esta conferência é importante porque estabelece ligação entre uma reivindicação particular (a abolição da engorda) e a problemática geral da contestação do especismo e do sofrimento infligidos pelos humanos aos outros animais. Ela está particularmente em sintonia com os conteúdos dos números 25 e 26 dos Cahiers porque desenvolve os quatro temas seguintes : 1) O especismo; 2) A sensibilidade; 3) A utilização de animais na alimentação; 4) Podemos proibir um alimento em nome dos interesses dos animais?
Trecho:
«Em relação ao próprio patê de fígado de ganso, quando falamos que somos a favor da interdição da engorda, uma das respostas que recebemos freqüentemente é: ”Se a engorda não lhe agrada, se sua ética é contrária a isso, você é livre para não comer, mas cada um é livre para comer o que quer”. E se dizemos: “Não, cada um não deve ser livre para comer aquilo que quer, há limites de sofrimento que não podem ser infringidos pelo prazer de comer os órgãos de um ser sensível”, a resposta é: ”Você quer impor aos outros um código de moralidade”. E falamos imediatamente de questões de tabus religiosos, de fanatismo, isso quer dizer que estamos interferindo com o que não nos diz respeito, que há uma liberdade específica para cada um comer o que quiser. Existem razões históricas que fazem com que toda regra alimentar, toda interdição alimentar seja conotada imediatamente como sendo ligada à religião, como sendo ligada à moralidade particular. Isto se explica pelo fato de que a religião, hoje, num Estado laico, é uma questão que faz parte do domínio privado. Consideramos que as proibições alimentares, associadas ao domínio religioso, são da esfera do domínio privado, e então, que a lei não deve impor proibições alimentares.
Entretanto, em contraste a isso, há textos de lei, como aquele – citado no vídeo - que estipula : “Nenhum animal pode ser alimentado ou ainda receber o que beber de forma que isto lhe resulte sofrimentos”. O patê de fígado de ganso é uma maneira de alimentar os animais que provoca sofrimento. Na França já existem textos de lei que, se fossem aplicados, enunciam que não podemos comer o que desejamos, que na França não deveríamos comer patê de fígado de ganso.»
Blog com título fraudulento: não aprendemos nada sobre a cultura ou a culinária das abóboras, pois o site consagra-se ao problema matéria-espírito. Contém reflexões pessoais e notas de leitura sobre uma das questões mais centrais e mais difíceis: a sensibilidade (consciência). Trecho:
«Em uma certa época, eu tinha o sentimento de que havia algo de escandaloso na impossibilidade que há de fundarmos todo nosso conhecimento de maneira racional. Não somente a existência do mundo é indemonstrável, mas também a existência de nossas percepções. /.../
Mas essa, e ainda outras dificuldades, naturalmente não me impediram dar à demonstração racional um prestígio particular, o único capaz de nos autorizar a crer em algo de forma plena. Por outro lado, a crença não demonstrada era um forte indício de uma fraqueza de espírito, resultado de uma persuasão – forma baixa de argumentação – ou deslumbramento de nosso espírito pelos nossos sentidos ou sua dedicação pelos nossos próprios desejos.
Tal parecia ser meu estado de espírito na época; e acredito não ter sido o único. Penso que através deste comportamento eu mostrava uma atitude muito freqüente com relação à razão ou mesmo uma atitude comum a praticamente todos os pensadores que se dizem racionalistas a um título ou outro.
/.../
Não temos nenhuma razão para crer no testemunho de nossos sentidos; e mesmo se acreditamos, não temos porquê concluir o que quer que seja com relação ao futuro, mesmo no que ocorrerá em um segundo. Se temos que concordar apenas com o que é rigorosamente, “matematicamente” demonstrado, estamos mal!
/.../
Todos os dias, eu atravesso a rua. Olhando se há um carro que passa ou não, confio nos meus sentidos – uma confiança que, racionalmente, nada justifica. Portanto, jogo minha vida nesta convicção, e o faço sem hesitação. Em compensação, se me propusessem apostar minha vida na exatidão de um resultado matemático resultando de quinhentas páginas de demonstração, pensaria mais do que duas vezes!»
Essa biblioteca reúne textos de autores clássicos e modernos sobre animais.
Passando pela página de abertura do site http://site.voila.fr/dudroitanimal/..., clicando sobre « théorie » acessamos uma outra série de textos. A assinalar, em particular, a tradução de vários capítulos de The Case for Animal Rights, de Tom Regan, e ao apelo pela boa vontade para que sigam a tradução deste livro fundador do qual ainda não há versão francesa.
PETA é a maior organização mundial que defende os direitos dos animais definida da forma a seguir: «Os animais não nos pertencem. Não temos o direito de dispor deles seja para alimentação, vestuário, lazer ou experiências científicas». No final de agosto de 2005, a versão francesa do sita da PETA foi colocada na rede: http://www.petafrance.com/
Esse site (http://poulets.fr) foi criado para apoiar a reivindicação pela proibição da criação intensiva de frangos na União Européia. Cada um pode apoiar assinando o manifesto disponível no site. Encontramos uma descrição das condições de vida e de morte dessas aves. Fragmento:
«Os 4 bilhões de frangos criados anualmente por conta de sua carne na União européia vivem quase todos em condições lamentáveis./.../ 830 milhões deles são produzidos a cada ano na França. Aproximadamente 80% são criados intensivamente, dentro de hangares onde podem ser amontoados de 10.000 a 100.000 animais. Conta-se de 15 a 24 frangos por metro quadrado. As aves são abatidas com aproximadamente 40 dias, ou seja, duas vezes mais jovens do que há 30 anos. Esses seres nunca têm acesso a um percurso externo. O solo torna-se rapidamente abominável, repleto de excrementos, emitindo um forte odor de amoníaco. /.../ Nas criações intensivas, utiliza-se linhagens de frangos de crescimento rápido. Seus músculos se desenvolvem rapidamente, mas o coração, os pulmões e os ossos não seguem a mesma evolução. Desse modo, milhões de frangos sofrem de dolorosas deformações das patas ou paralisias. Muitos padecem igualmente de insuficiência cardíaca, bolhas no peito, dermites...»
Exibido na edição especial do Nouvel Observateur de julho-agosto de 2005, este artigo assinado por André Méry (presidente da Aliança vegetariana) permitiu apresentar ao grande público a ética vegetariana. Extrato:
«O cimento que liga a maioria dos vegetarianos ativos /.../ é o respeito da individualidade sensível /.../ A utopia vegetariana não tem que se ocupar com batatas fritas mas tem muito a fazer com indivíduos, sua sensibilidade, sua inclinação para evitar o sofrimento e a satisfação de suas necessidades para levar uma vida conveniente. /.../ [A utopia vegetariana] é um mundo concreto sem criações nem abatedouros, sem caçadores nem pescadores, sem touradas e nem outras torturas desse estilo, e até mesmo sem matanças em rituais e em experiências com animais. /.../ A utopia alimenta-se da idéia de que a história tem um sentido e este aponta para o crescimento da compaixão e da fraternidade universais.»
Yves Bonnardel freqüentemente expôs a crítica da utilização normativa da idéia da natureza nas colunas dos Cahiers, mostrando como ela serve para confirmar as discriminações injustas tais como racismo, sexismo ou especismo. Ele assinou um artigo sobre esses mesmos temas no número de março-junho de Temps Modernes. Podemos nos alegrar porque esta revista política e cultural prestigiosa julgou a publicação de tais idéias em conformidade com a sua missão de reflexão engajada. Extrato:
«De fato, se existem diferenças radicais a serem estabelecidas na realidade, estas não residem nas oposições entre natural e humano, natural e artificial, congênito e adquirido etc. De um ponto de vista científico, filosófico tanto quanto ético, não é essa diferença entre supostos “seres de liberdade” e “seres da natureza” que parece pertinente daqui em diante, mas sim, a distinção entre uma matéria sensível e uma matéria inanimada, entre coisas reais que provam sensações, que sentem e que agem em função de fins que são seus próprios, e aquelas outras coisas que não sentem nada, não tem interesses, que não dão nenhum valor aos acontecimentos e nenhum objetivo a sua existência. Entre os seres sensíveis e as coisas insensíveis, entre os animais e as pedras ou as plantas.»
[1] Les Temps Modernes, número 630-631, março-junho de 2005, página 105 a 107.