Sobre a predação e a oposição entre ecologia e liberação animal
O homem mata animais para se alimentar; é uma das leis da natureza que o fez carnívoro.
Claude Elsen1
Desde que abordamos o assunto de considerarmos igualmente os interesses de todos os animais, ou seja, de dar tanto peso aos interesses dos não-humanos quanto aos dos humanos, as pessoas contestam com uma série de argumentos que são sempre os mesmos. Principalmente aparece a referência a predação: «Mas os animais se comem entre eles; então por que não deveríamos fazer o mesmo?» – ou, ao contrário: «Se nos opusermos contra a exploração dos animais, também é necessário nos posicionarmos contra a predação da Natureza».
Sabemos como é fácil responder a este tipo de argumento: os humanos possuem justamente esta especificidade tão glorificada pelos especistas de poderem mudar de comportamento, por razões morais, com maior facilidade do que os outros animais. Mas essa resposta, se é formalmente suficiente, evita uma questão fundamental: a predação representa em si própria um problema bem real e logicamente leva à reflexão aquelas pessoas que se preocupam seriamente com os interesses dos outros animais.
E trata-se de um problema que tentamos sempre evitar, pois ele faz parecer louco aquele ou aquela que tenta refletir calmamente sobre o tema, e porque divide de tal forma os consensos, inclusive no seio do movimento anti-especista2.
Apesar disso, é um assunto que deve ser abordado. E se ele pode dividir, pode também ajudar a fortalecer o movimento, principalmente ao esclarecer suas posições com relação ao ecologismo e ao naturalismo (esta crença religiosa na «Natureza»).
Minha posição é a mesma que S.F. Sapontzis argumenta em detalhe3: eu considero como justo, ajudar todo indivíduo que precise a menos, evidentemente, que o remédio seja pior do que a doença. Considero justo tentar modificar um estado de fato (uma sociedade ou um ecossistema) no sentido de um maior bem estar global dos seres implicados.
Creio que uma tal decisão desencadeie debates por, pelo menos, duas razões:
- Ela parece implicar no fim das contas ,um domínio e uma gestão total da «Natureza» e da vida de seus habitantes, enquanto que os humanos dos países desenvolvidos apreciem, hoje em dia, nesta «Natureza», a imagem do que eles não encontram mais em suas próprias vidas, submetidas a um fortíssimo controle social: a não domesticação, o caráter livre e selvagem de comportamentos não limitados por artifícios ou inibições sociais... Por outro lado, identificando-se facilmente apenas com os predadores, estas pessoas idealizam uma imagem paradisíaca da «Natureza», imagem utópica e ilusória, digamos de passagem.
- Mas sobretudo, há um forte caráter religioso associado à idéia de «Natureza» que a faz parecer intocável. Questionar a «Ordem Natural», não mais se manter à distância habitual e respeitosa. Conceber a reforma dessa «Ordem Natural»! Ai ai ai! Ainda mais hoje em dia, pois para várias pessoas «a Mãe Natureza» substituiu Deus e lhe atribuímos, ao mesmo tempo, o papel de vítima da «violência humana4».
«É natural!»: podemos dizer a mesma coisa sobre o infanticídio (leões, gorilas, por ex) ou sobre o câncer (todos os vertebrados), a menos que o «natural» queira dizer «que existe há milhões de anos». O que não implica que seja bom. E vemos dificilmente porque seria algo bom para os não humanos se não o é para os humanos. Adesivo do «Comité national d'information chasse-nature» («Comitê nacional de informação da caça e da natureza»).
O questionamento da predação é apresentado de forma caricatural, como se tratasse instantaneamente de intervir nos ecossistemas sem ter os meios de matar todos os predadores... enquanto nós nunca afirmamos dispor atualmente de soluções globais ou particulares para a predação, que não sejam ainda piores do que o mal da predação. Uma boa comparação que já foi feita5 me parece ser aquela sobre a Aids: neste caso também não encontramos até hoje a solução global, radical, mas já é necessário nos pronunciarmos contra a aids, é necessário nos opormos contra as pessoas que enxergam nessa doença uma justa punição de Deus: de um lado porque tais posições possuem em si próprias, um impacto ideológico importante e por outro lado, porque ao nos posicionarmos contra a aids, procuramos combatê-la cada vez que isso é possível, ainda que nossos esforços possam surtir poucos efeitos – cada pessoa que é salva conta.
Hoje em dia, o questionamento que podemos fazer sobre a predação continua sendo mais teórico que prático, pois, sem contar com os cães e os gatos vegetarianos e os camundongos que foram tirados de certas garras, os meios de ação são limitados e o conhecimento das conseqüências a longo termo é insuficiente. Mas tal é a dificuldade inerente a todo projeto de mudança radical. Assim, por exemplo, os mesmos problemas aparecem quando o capitalismo é questionado, assim como quando questionamos todo conjunto infinitamente complexo das relações sociais e econômicas que o fundamentam. O capitalismo existe e funciona e nos permite sobreviver – pelo menos a maioria de nós. Não possuímos uma solução de substituição já pronta e sabemos que existem remédios piores que a doença. Podemos tentar aqui e lá nos opor a algumas de suas engrenagens, seja em uma fábrica ou no Chiapas (México). Podemos tentar imaginar e mesmo construir, localmente e parcialmente, outras formas de relações interindividuais. Podemos convocar as pessoas de boa vontade a lutarem e refletirem sobre a maneira de trocarmos o capitalismo por algo que seja melhor.
A predação também é um problema complexo, que não podemos isolar de todo o conjunto formado por outras questões: demográficas (superpopulação), sanitárias (epidemias), de qualidade de vida em geral (meio ambiente), ou seja, a longo termo, evolutivas (estoque genético). Assim como o capitalismo ou qualquer outro sistema social cuja transformação somente pode ocorrer a partir de debates e tentativas, a predação não pode ser abordada com uma vara de condão. Somente quando a reflexão e a discussão se tornarem possíveis dentro da sociedade é que surgirão as soluções – ainda que estas sejam de pouca amplitude: pois o problema da predação não se resolve necessariamente em termos de tudo ou nada.
Com efeito, ao examinarmos a predação, podemos ficar com os braços cruzados, paralisados com a grandeza do fenômeno. Aconteceria o mesmo com a medicina se, ao invés de atacar as doenças e procurar curar ou abrandar as doenças reais que ocorrem, ficasse obcecada com a impossibilidade de vencer todas as doenças, ou com o terror de intervir no curso «natural» das coisas, de ir contra Deus ou a Natureza. Da mesma maneira, desde que nos liberamos do respeito paralisante da «ordem natural», torna-se possível começarmos a refletir sobre as predações, sobre os inúmeros tipos de predação, a distinguirmos os casos mais graves – por exemplo, o das hienas que dilaceram suas vítimas vivas, impondo-lhes um sofrimento imenso – e aqueles que são menos graves ou que não o são – como a predação dos insetos se, como algumas pessoas pensam, eles não são sensíveis – e a distinguir entre os casos relativamente fáceis a serem resolvidos – como o caso dos lobos em relação aos cervos – daqueles que parecem fora de nosso alcance – como a predação de inumeráveis peixes no oceano; isso tudo procurando considerar, antes de cada intervenção, o conjunto das conseqüências previsíveis, assim como na medicina antes de prescrevermos um remédio.
Então, materialmente é possível começarmos a progredir na prática e reduzirmos a predação, sem que seja necessário termos estabelecido, anteriormente, a possibilidade de varrermos da Terra todos os tipos de predação.
Uma analogia entre sociedade humana e «Natureza» permite pensar três grandes tipos diferentes de reações, imagináveis face à predação:
- «Laisser faire», o slogan do liberalismo hoje em dia triunfante, corresponde também à atitude que os humanos sempre tiveram frente às relações entre os não-humanos (exceto, por exemplo, quando um predador entra em concorrência por uma «caça»). A insistência sobre o direito à livre determinação individual, sobretudo a dos indivíduos dominantes, tem a vantagem – para estes- de lhes evitar ter que intervir nos negócios alheios. Sabemos, entretanto, que a liberdade formal mascara com freqüência um ambiente real, onde a «lei da selva» permite, aos melhores colocados, comer os outros. Por outro lado, esta opção concede um valor supremo à liberdade, ponto que mereceria pelo menos uma discussão rigorosa; há muitas chances que certos valores caros à maior parte dos humanos, como os sentimentos de dignidade, de liberdade, de autonomia, de responsabilidade, de individualidade, de identidade, etc, o sejam bem menos para muitos outros animais.
- A opção oposta lembra sobretudo o «Estado providencial», ampliado pelo recente «direito de ingerência humanitário». É então um direito e um dever de intervir no desenrolar dos acontecimentos, tanto e quanto for possível: não revolucionando o mundo mas, administrando-o da melhor forma, pouco a pouco. Podemos então começar a luta contra a predação através de intervenções limitadas, nos casos mais urgentes. É verdade que esta atitude pressupõe sérios problemas políticos: sabemos que as intervenções «paternalistas» são, freqüentemente, a oportunidade para aqueles e aquelas que estão em situação de poder, socorrer outros impondo seus próprios interesses e dominando através de sua ajuda6. Entretanto, vemos mal quais interesses «privados» os humanos poderiam encontrar ao intervir para preverem ou aliviarem as doenças, as fomes, as predações, etc? A não ser o interesse de se sentirem moralmente superiores, o que não é algo diretamente nefasto.
- Enfim, a terceira solução «proposta» que tenta ultrapassar a oposição entre as duas precedentes corresponde, para continuar na analogia, ao projeto de mudança revolucionário das sociedades humanas: a esperança ou a vontade de deixar cada um livre, sem correr riscos, sem ameaçar os outros em suas condições de vida e de liberdade, ao mudarmos as estruturas sociais de forma adequada. Mas a analogia revolucionária implica, no caso da «Natureza», uma modificação total de tudo que existe na Terra. Infelizmente não vemos hoje em dia nem a sombra da possibilidade desta realização.
No caso da predação, a segunda opção e a terceira seriam mais ainda impensáveis enquanto as sociedades humanas continuem sendo sociedades de exploração, de opressão e de dominação. Atualmente as posições teóricas, quaisquer que sejam, não podem ter repercussões concretas bem limitadas: pois mesmo quando possamos imaginar soluções particulares e circunscritas para melhorar o destino dos animais selvagens, somos poucos a querer aplicá-las e continuaremos no mesmo ponto enquanto os seres humanos, que ainda praticam a predação sobre um número incalculável de indivíduos que estão sob seu jugo, continuarem especistas7. E por que estes seres humanos gastariam uma energia importante para regular problemas que não lhes afetam de forma alguma? Somente se motivações de altruísmo, o desejo de ajudar e fazer o bem, se tornassem as motivações de suas relações sociais.
Hoje em dia o que é importante é a contribuição teórica e ideológica do debate, pelo que este pode mudar em relação à nossa percepção dos outros animais, ao nos ajudar a considerá-los verdadeiramente como indivíduos cujos interesses realmente devam ser levados em conta: através do ataque frontal, que o debate pode ocasionar,contra a ideologia naturalista e especista.
O que criticamos em particular na ecologia e em geral, no naturalismo, é o fato de somente considerarem a vontade dos humanos de verem a «Natureza» se perpetuar tal como ela é, sem se preocupar com os interesses dos indivíduos que são os mais tocados.
O naturalismo enxerga o mundo como sendo uma totalidade submissa a uma «ordem natural» onde tudo tem um lugar que é seu verdadeiro lugar, onde tudo está em ordem. Cada coisa «natural» possui então em si uma natureza particular, que é considerada como um tipo de programação interna, para ficar em seu lugar e cumprir bem sua função no meio do Todo. A natureza (com n minúsculo) de uma coisa é então aquilo que a Natureza (com um grande N) lhe dita para que seja realizada a «harmonia» de todas as coisas entre si. Por ser vista como uma totalidade, esta «Natureza» recebe um valor infinitamente superior ao valor que é concedido a cada um de seus mecanismos. De repente a «natureza» de cada um de seus mecanismos, por ser expressão da Natureza, torna-se uma coisa essencial e fundamental que não deve ser pervertida sob pena de subvertermos a ordem do mundo ocasionando o caos.
Reconhecemos sem fazer esforço, nesta descrição do naturalismo, uma variação sobre os grandes temas e mitos fundamentais de todas as religiões. Com efeito, a relação dos humanos com essa ordem imaginária é de tipo religioso: a «Natureza» é sacralizada, imaginamos suas intenções ou a personalizamos. Tal «ordem natural» é geralmente uma projeção de nosso próprio sistema social (ou daquele que desejaríamos instaurar) e os conceitos que os humanos tiveram dessa ordem variaram ao longo dos séculos. Assim, falamos mais facilmente hoje em dia do «equilíbrio natural» do que da «ordem natural»: pois a tendência que domina atualmente é mais ligada à idéia de democracia e participação do que ligada ao fascismo declarado. Uma tendência mais próxima da economia liberal do que de uma planificação do Estado. Mas se o tipo de ordem modifica, a ordem continua, quer dizer, a veneração que os humanos têm por ela continua existindo. Toda coisa que dizemos ser «natural» é pressuposta como pertencente à «ordem natural», e consideramos que existe apenas por e para esta totalidade. As coisas «naturais», quaisquer que sejam, encontram-se todas em um plano de igualdade: o pardal, a grama, a pedra, cada um ocupa seu lugar, concorre, ao seu modo, para o bom desenvolvimento do todo e será apenas percebido dentro deste esquema.8. Seus interesses eventuais existem apenas com a condição de serem a tradução daqueles da Ordem, porque só estes são tidos como verdadeiros. Se porventura parecem transgredir, serão negados como verdadeiros interesses (desejos «contrários à natureza»: pervertidos, degenerados...). Ou bem, na honorável intenção de reabilitá-los, mostraremos que eles se integram, apesar de tudo, ao Grande Projeto9.
Ora, este discurso sobre os animais no seio da «Natureza» encontra um paralelo perfeito em certos discursos políticos, que proclamam um tipo de sociedade particular: onde os interesses dos indivíduos, inclusive suas vidas, são importantes apenas na medida em que vão no sentido da boa teoria da maquinaria social onde, com efeito, o valor dos indivíduos é puramente relativo ao da Ordem Social, este conjunto ao qual pertencem de corpo e alma, que os compreende e os transcende, onde é necessário que eles estejam e continuem imersos e dos quais são apenas os mecanismos. Esses discursos políticos são discursos totalitários, fascistas, nazistas, stalinianos, etc (se os democratas também consideram «necessário» terem o poder social sobre os indivíduos, quer dizer, a existência de uma ordem social, seus discursos acentuam mais a liberdade da pessoa do que sua sujeição autoritária à totalidade).
O discurso naturalista é explicitamente totalitário pelo fato de se colocar do ponto de vista de uma totalidade abstrata de seus componentes, ao mesmo tempo em que é visto como representante destes mesmos componentes. Será necessário sacrificar os interesses de certos indivíduos, ou mesmo de todos para que a «Natureza» (como a sociedade nas ideologias sociais) caminhe harmoniosamente. O sofrimento de alguns não importa, pois apenas a totalidade é que existe e conta realmente. Não concluímos que deveríamos refletir como viver de outra maneira e melhor. O sofrimento e a morte de alguns são neutralizados, transcendidos e sublimados por sua pretensa função no seio da tal entidade sublime e transcendente que é o Tudo.
Isso fica particularmente claro quando invocamos os famosos «equilíbrios», que são mencionados em termos explicitamente místicos, como é o caso aqui:
... tudo o que a moral humana reprova com força, a injustiça, a desigualdade, a crueldade, não tem nenhum sentido para o animal. Para o animal a finalidade parece bem diferente: em primeiro lugar é a sobrevivência, sobrevivência individual e depois a sobrevivência da espécie. Talvez o animal esteja programado para melhor saborear o equilíbrio na Terra do que todas as espécies vivas em função de um destino mais vasto10,
Ou tentando apresentá-los de modo racional, dando-lhes uma roupagem pálida e cientifica:
As zonas úmidas formam então um meio bem equilibrado, onde cada espécie representa seu papel. Se algumas proliferam é para alimentar outras, predadoras. Este ciclo tão bem ordenado da Natureza11...
Uma outra maneira de recusarmos levar em conta os interesses individuais dos animais, encontra-se na velha idéia de que a Natureza através da «seleção natural» produz seres superiormente sensíveis, dotados de hedonismo; na perspectiva de uma felicidade geral sempre crescente; seria necessário então não tocarmos na seleção natural, que opera através de epidemias, fomes ou predações12.
Talvez a «seleção natural» represente verdadeiramente um papel no aparecimento de novos indivíduos mais sensíveis (então vistos como sendo mais eficazes em termos de sensibilidade). Para dizer a verdade, vemos mal como ter certeza disso. Mas o que nos permite avaliar que estas eventuais aparições novas, valham bem a monstruosa carnificina cotidiana, o que permite decidir que a balança deva se inclinar a favor destes futuros super animais, em detrimento dos animais bem concretos que sofrem e morrem atualmente?
Que nos perguntemos, por que não? Mas que respondamos com segurança sem nenhuma prova tangível, isso é algo surpreendente. Trata-se, neste caso, ainda mais uma vez, de tentarmos atribuir uma função aos animais, de fazer deles novos meios para alcançarmos um fim que deva transcendê-los. Eles seriam então sacrificados sobre o altar da Evolução, cada cadáver suplementar marcaria uma etapa da Longa Caminhada em direção ao Melhor.
A idéia não é nova:
Karl Marx ia criticar Charles Darwin porque este representa o estado natural do reino animal, como aquele da livre concorrência e porque ele enxerga entre os animais e as plantas, sua própria sociedade inglesa, «com sua divisão do trabalho, sua competição, a abertura de novos mercados, as «invenções» e a «luta pela existência» malthusiana». Ao descrever as formas mais ferozes da concorrência, como sendo da ordem natural das coisas, Darwin segue a tradição de todos os autores que o precederam e que alegaram que as classes inferiores devem aceitar de bom grado, uma vida difícil, pois a natureza lhes assegura que tudo tende para o melhor. Ele mostra que a fome e a morte são meios que asseguram a produção ininterrupta de animais superiores, durante este tempo, «nenhum medo é sentido, a morte é geralmente rápida e os vigorosos, os que possuem uma boa saúde, os que são alegres, sobrevivem e se multiplicam13».
Com efeito, encontramos freqüentemente este discurso ainda hoje:
Jamais eu impedi um animal predador de pegar um pássaro,um rato ou uma lebre, jamais fiquei indignado ao ver uma serpente comer um pequeno mamífero: a natureza os fez predadores, eles a obedecem. Eu nunca os impedi pois, além do respeito que sentimos pela natureza, Scott e eu observamos o modo fulminante como o predador mata sua presa.
e:
Sou um adepto incondicional da seleção natural, pois a Natureza não pode se enganar14.
O discurso chega à mesma conclusão, seja ele imediatamente místico ou camuflado com um verniz cientifico como aquele de Darwin. Pois a Natureza, se é inflexível (ela é uma ordem!): ela é também harmonia, não o esqueçamos. Os naturalistas procuram legitimar a ordem, ficando em paz com suas consciências.
Se em vez de nos questionarem sobre os outros males naturais, as pessoas preferem nos perguntar sobre a questão da predação, é porque sabem que nós mesmos não a praticamos. Se, como nós pensamos, a alimentação carnívora é o símbolo fundamental da supremacia humana, a referência prática central da dominação especista, então não é surpreendente que a predação natural seja objeto de um tabu tão resistente e continue incriticável. Ela é análoga, na Ordem Natural, do nosso consumo de animais na ordem da sociedade, e ela parece ser a última justificativa. O que também acontece, como mostra a situação seguinte, com outras formas de exploração dos não humanos:
O importante, é que os pesquisadores se conscientizem que podemos tratar um animal de outra maneira. Nós queremos inculcar a noção de respeito do animal. O animal é necessário para a pesquisa científica, da mesma maneira que a lebre é necessária para a sobrevivência da raposa. A espécie humana luta utilizando as outras espécies.
Jean-Claude Nouët15
O discurso que prega que, os interesses de certos indivíduos, somente são importantes em função de sua utilidade por outra coisa do que para si mesmos, é o discurso típico de todas as formas de dominações16.
O efeito principal deste tipo de discurso, que é também seu fim e sua função, é o de negar a importância de seu próprio interesse, que aparece necessariamente derrisório e ridículo, de ser sempre associado/comparado com um «interesse» superior, o mais freqüentemente grandioso e sagrado: o interesse da «Natureza» por exemplo, ou da «Humanidade», ou de qualquer outra noção sacralizada.
Com efeito, todas as dominações intra-humanas, tendem a centralizar os dominados a uma relação de pertencer à «Natureza». Esta «ordem», é o reino da funcionalidade, do determinismo, do valor relativo a outra coisa do que a si próprio, quer dizer, da não-individualidade. Os dominantes,ao contrario, são vistos como totalmente pertencentes à «Humanidade»,quer dizer, pertencem ao reino da autonomia, da liberdade, do valor em si, da individualidade, etc17.
Os testemunhos pululam de acordo com as fantasias das sociedades e das épocas, sobre a «naturalidade» dos escravos, das mulheres, das crianças, dos animais, mas também do povo, dos loucos, dos marginais, dos criminosos, dos homossexuais e, lógico, também dos negros e dos povos colonizados. Seu lugar natural, na ordem natural, corresponde sempre à função e ao lugar que lhes é destinado socialmente; se os dominantes são livres18, os outros, seres naturais, são ao contrario, programados pela «Natureza» para continuarem no mesmo lugar, geralmente para a glória da harmonia mundial.
Isso significa que as dominações sempre foram percebidas como sendo algo natural, como fazendo parte da Ordem natural das coisas: todas as dominações «pré capitalistas19» foram legitimadas por uma divindade ou pela Ordem natural e não devem ser questionadas, pois isso poderia provocar o caos. Assim sendo, a escravidão foi sempre considerada como uma instituição natural. Daí uma feminista contemporânea notou que, consideramos ainda o patriarcalismo, como um «equilíbrio» e como uma «ordem natural20».
Por isso praticamente todos os movimentos reacionários fazem apelo ao naturalismo para manterem ou restabelecerem a ordem. Ou para legitimar o patriarcado, ou para justificar o racismo, o eugenismo, a monarquia, a guerra21 ou a volta das «hierarquias naturais», ou para combater a liberdade moral, a homossexualidade, a perda do masculino e do feminino...
Os dominantes se referem maquinalmente à «Natureza» como argumento para cimentarem a ordem social e justificarem seu caráter de desigualdade:
Se isso acontece automaticamente em civilizações como as nossas, onde nenhuma seleção natural não elimina os fracos, os débeis mentais, os deformados, que deixamos viver, existe na natureza uma «injustiça», uma desigualdade entre os seres sem a qual (desigualdade) a vida seria impossível22.
A conclusão «natural» é, «cada um em seu lugar» encontra naturalmente a solução nos animais, pois a «Natureza» age diretamente neles (a ‘natureza’ deles lhes dita diretamente a posição que devem ocupar), mas que ocorre com os humanos somente se eles se tornarem «submissos» e usarem a liberdade que têm de forma «sadia», aprendendo a ficar no lugar que devem, dentro da hierarquia social, agora invocada também como sendo algo natural:
... ele era um bom chefe, um verdadeiro chefe, como um rei deveria sempre ser, como eles foram nas idades onde a natureza nos ditava ainda suas leis e tudo era «ordem e beleza», mesmo matar para viver, mesmo ficar doente, mesmo morrer23.
O ser humano sábio é aquele que, colocando-se de acordo com a ordem fundamental, sabe minimizar a falta da natureza na vida em sociedade:
A repartição da população de um País em diferentes classes, não é o efeito de uma coincidência nem de convenções sociais, ela possui uma base biológica profunda. É preciso que cada um ocupe seu lugar natural. A presença de grupos estrangeiros indesejáveis do ponto de vista biológico, é um perigo certo para a população francesa24.
e:
Não há sobrevivência possível se o Ocidente não encontrar as fontes da ordem natural25...
O naturalismo é fundamentalmente, como vemos, a ideologia do respeito da ordem e das dominações; se seu papel começa a ser conhecido e compreendido no tocante ao racismo, ou ao sexismo, ele passa sistematicamente desapercebido quando é relativo ao especismo; este parece algo tão natural! As melhores críticas geralmente não pensaram um segundo, que suas análises pudessem também se aplicar aos outros animais: os humanistas atacaram ao longo dos séculos e da evolução social, a idéia que os humanos pudessem participar da ordem da «Natureza», mas essa crítica quase sempre parou nas fronteiras da humanidade. Simplesmente chegamos ao ponto onde há uma ordem humana, social, reino da liberdade e da individualidade,e uma ordem não humana, natural, reino do determinismo e da funcionalidade. Agora todos os humanos fazem tendencialmente parte do primeiro grupo, todos os não humanos são irrevogavelmente relegados ao segundo. Pelo menos é simples.
Aí está a construção ideológica típica, fundamental, através da oposição milenar entre «Natureza» e «Humanidade», estes dois conceitos sendo puros produtos ideológicos e imaginários de um mundo fundado em dominações.
É esta cisão do mundo em «Humanidade» e «Natureza» que devemos questionar, não como as pessoas que desejariam recolocar os humanos na Ordem natural, mas suprimindo estes conceitos e em particular, a idéia de que existe uma Ordem natural. Somente com esta condição, poderão ser levados em conta, os interesses dos outros animais por si próprios. Poderíamos por acaso imaginar que a luta contra o racismo ou o sexismo, pudesse ter progredido se os Negros ou as Mulheres continuassem sendo vistos como seres que fizessem parte de uma Ordem natural, da qual os brancos tivessem escapado?
Por perceber os animais como pertencentes à «Natureza», os humanos têm a impressão que os não humanos não intervem a favor ou contra o destino das coisas como o faz a humanidade. Acreditam que os animais não humanos estão e continuam imersos dentro, são prisioneiros disso, são obrigados a sofrer isso e – magnífica camuflagem da realidade- (– sem realmente sofrerem, pois são vistos como adaptados pela natureza - a Natureza é tão harmoniosa-).
É normal que se eu dou importância à vida de alguém e que por outro lado, não possuo nenhum sentimento religioso, eu não o deixarei se tornar uma presa da «Natureza» (quer dizer, do acaso das circunstâncias) mas procurarei intervir. Mas, com relação aos não-humanos, os humanos reagem freqüentemente de forma diferente, mesmo nos casos onde eles/elas os amam. Assim sendo, se muitas pessoas não cuidam de «seus» animais de companhia quando estes adoecem, não é apenas pelo fato de serem avarentos, mas também pelo fato do animal e de sua doença serem vistos como originários do mesmo mundo, a «Natureza», e intervir seria se infiltrar nesta outra ordem que não é a nossa, nos negócios interiores de uma outra nação. Uma ordem da fatalidade e do destino (e paradoxalmente sempre, da harmonia); que seria perigoso subverter, desequilibrar, ao se intrometer nela.
Spinoza criticava já no século XVII a visão segundo a qual, a «Humanidade» seria como um Império dentro de um Império (a «Natureza»), o reino da liberdade no seio do reino do determinismo. Mas, com efeito, os humanos distinguem bem dois mundos, «Humanidade» e «Natureza», mas justapostos, existindo lado a lado, em interação. Eles/ elas os colocam como sendo duas Ordens diferentes, como duas nações que mantenham um comércio, mas que estejam separadas por um fosso. De acordo com isso, é preciso que as vacas sejam bem guardadas: os animais devem continuar na «Natureza», para obedecerem à natureza e preencherem sua vocação natural, e os humanos devem continuar humanos e continuar obedecendo à sua humanidade, à sua liberdade, dignidade: à sua grande idéia de si próprios.
Esta cisão ideológica nos impede de imaginarmos uma solução ao problema da predação, nos impede de pensar que os não humanos, possam ter direito ao progresso, possam avançar em direção a um maior bem estar ao qual aspiram os humanos. Ela impõe o desenvolvimento separado, o apartheid das espécies: de um lado,a «seleção natural», a «lei da selva» e do outro, as exigências de justiça. Entretanto, qualquer solução ao problema da predação seria desejável, desde que não suscitasse problemas maiores do que aqueles que aliviaria, do ponto de vista dos principais interessados: mesmo um mundo controlado e administrado de A à Z pelos humanos seria um progresso, se esse mundo fosse por causa disso, mais agradável de se viver para seus habitantes, do que o mundo atual. E, efetivamente, sobre qual outro critério poderíamos seriamente julgar isso? Um tal mundo talvez perderia muito em termos de liberdade, em imprevisibilidade, em autonomia, em poesia, mas o que «nós» humanos perderíamos em uma tal empreitada, se confrontado com o tanto que outros seres teriam a ganhar?!
É então contra a divisão ideológica do mundo em duas Ordens, que deve se levantar o anti-especismo, contra o apartheid das espécies que daí é resultante.
Falamos freqüentemente nos Cadernos anti-especistas, de nossa posição face aos movimentos progressistas humanistas. Mas nunca abordamos a questão sobre as relações que podem ter os movimentos ecologista e anti-especista.
Em que medida os valores e as visões do mundo que veiculam estes dois movimentos, são compatíveis? E, uma pergunta diferente, em que medida eles podem ser aliados no mesmo terreno?
Primeiro ponto, o nível ideológico: o anti-especismo se preocupa com a sobrevivência e o bem estar dos indivíduos, o que não é o caso da ecologia – quando esta forja fazê-lo, é porque os indivíduos em questão são dotados de características que têm a ver com suas vidas apenas de modo acidental, como o fato dos ursos, das baleias, ou dos lobos de pertencerem a uma espécie em via de extinção e, de fazerem positivamente relevo e serem símbolos no imaginário dos humanos26. A ecologia adota e reforça valores naturalistas: a «Natureza» é um valor em si,não deve ser tocada, ou tudo pode desmoronar: é a posição «deep-ecologista», partilhada pouco ou bastante pela grande maioria. Ou ela guarda os valores humanistas: a «Natureza» é nosso meio ambiente (é «nossa»), e é, como tal, um capital (financeiro, cultural, estético) que não devemos dissipar, mas preservar e fazermos frutificar, em vez de consumirmos sem julgar e destruirmos: esta é a posição dos meio ambientalistas. A «Natureza» é então, um patrimônio que devemos restaurar como fazemos com os antigos prédios carregados de história, ou que devemos salvar como os museus salvam e colocam à disposição do público, as obras de arte (é o que são as reservas naturais). Claro que isto se completa com o fato de levar em conta que o futuro da humanidade seja tributário de um meio ambiente não demasiadamente patogênico27.
Egocêntrica ou antropocêntrica, a ecologia continua sendo fundamentalmente especista28, seja situando os não humanos como partes da «Natureza», ou ao lhes incluir na noção de meio ambiente.
Uma vez que a constatação das divergências políticas foi feita, será que convergências de ordem prática seriam possíveis?
O bem estar dos seres sensíveis precisa de um meio ambiente que lhes seja adaptado, e a crise «ecológica» atual implica um número incomensurável de animais dos quais quase nada ou nada sabemos, justamente porque eles não são nossos comensais. Bilhões de seres sensíveis vêm suas condições de vida serem deterioradas, seu meio ambiente habitual desaparecer, a alimentação faltar. Não é a «Natureza» que é vítima das chuvas ácidas que desertificam centenas de lagos, de irradiações que contaminaram vastos territórios (Tchernobyl), dos automobilistas, dos desflorestamentos, das repetidas poluições marinhas, dos inseticidas; as vítimas são indivíduos concretos, que não vemos esfomeados, envenenados, asfixiados (os peixes e demais animais nos lagos), irradiados, e que por isso, continuam abstratos em nosso imaginário.
Não creio de forma alguma, que a «Natureza» seja o meio ambiente ideal para a maioria dos indivíduos da maior parte das espécies. Por exemplo, há chances que «nossas» galinhas, vacas, cabras que estão em «nossos» pastos tenham uma existência mais tranqüila e alegre do que suas ancestrais selvagens que viveram quando os predadores pululavam: com exceção do fato que serão, no fim das contas, mortas, elas são muitas vezes protegidas, estão em lugar seguro, cuidadas, alimentadas, etc. Mas se um animal selvagem não está necessariamente em um paraíso nesta terra, acontece que «poluir29» seu meio ambiente, é uma maneira de torná-lo ainda mais perigoso (produtos nocivos) ou menos adaptado (desaparecimento ou diminuição de certos alimentos) e então, de reduzir seu bem estar30. Do mesmo modo, os perigos ligados ao nuclear, aos automóveis, etc, também o atingem; eis terrenos de ações e preocupações em comum que temos com os ecologistas.
Por outro lado, pode haver divergência e oposição, quando estes últimos querem reintroduzir predadores ou presas, se isso vai no sentido de um maior sofrimento geral. Ou se eles/elas querem conservar um ecossistema particularmente catastrófico (por exemplo, o exemplo já dado das hienas que estraçalham suas presas ainda vivas...) em nome do «isso é algo natural!». E, se um dia, encontrarmos os meios de intervir em grande escala, é claro que as divergências se aprofundarão e se tornarão verdadeiros antagonismos práticos.
Mas, por enquanto, o problema relativo a uma aliança atual sobre as lutas práticas, nas quais a ecologia e a liberação animal possam se unir (como a luta contra as poluições dos rios ou a questão nuclear) é um problema de ordem ideológica: nós temos uma visão nova do mundo, ultra minoritária e muito mal aceita; como podemos evitar que essa visão não seja devorada dentro do naturalismo comum, mas que, ao contrário ela se destaque e apareça claramente?
Uma das mensagens que devemos divulgar é que: podem existir divergências entre os interesses dos indivíduos não-humanos e os interesses que atribuímos abusivamente ao «Sistema», ao «Todo» («Natureza»). Mostrar que os animais são indivíduos que possuem interesses próprios. Mas como difundir esse tipo de mensagem em uma luta pelo meio ambiente? Ainda que a margem de intervenção seja particularmente estreita, se quisermos que o anti-especismo seja compreendido precisamente, ainda persiste a possibilidade de refazermos um discurso puramente ecologista, dizendo que «nosso» meio ambiente desempenha um papel fundamental em «nosso» bem estar; mas, claro que, incluindo explicitamente os seres sensíveis não humanos neste «nós» /«nosso». E não hesitemos em insistir que se a vida dos animais já é tão difícil (doenças, predação, procura de alimentação, problemas diversos de relações, etc.) não é necessário incluir que são geralmente mais vulneráveis que os humanos (pois têm menos possibilidades de dominar o meio ambiente onde vivem). Um discurso onde a noção de meio ambiente venha quebrar a tradicional dicotomia «Natureza»/ «Humanidade» (o que não torna o discurso ecológico antropocêntrico, pois a noção de meio ambiente toca, recupera a noção de «Natureza»), de um lado colocando todos os seres sensíveis na categoria daqueles que precisam de um meio ambiente adaptado e de uma certa qualidade de vida, e de outro lado não hesitando, quando for possível, incluir os humanos na noção do meio ambiente: as atividades humanas e os produtos destas atividades são uma parte de nosso meio ambiente, assim como o dos outros animais – da mesma maneira daquilo que chamamos «Natureza».
Para certas pessoas, talvez tudo isso poderá parecer bem abstrato, e sem dúvida será invocada a urgência que há de se fazer uma intervenção que evite as destruições dos ecossistemas. Isso com o pressentimento de que as divergências de idéias paralisariam inutilmente as ações práticas que consideramos tão importante atacarmos: a idéia de Natureza, este «fantasma» naturalista. Acreditamos que, por enquanto, a luta ocorre no campo das idéias; e que ela durará decênios e que apenas poderá tirar sua força da justiça e da precisão das teorias e das análises que possamos elaborar. Não é o tempo de darmos a isso uma conotação política para agirmos concretamente (salvar alguns coelhos ou ratos): hoje, as ações devem ter como finalidade essencial, a divulgação das idéias e desta nova visão que queremos dar sobre os animais: as ações não são um fim em si mas, antes de tudo, um meio a serviço de nossas idéias. A prioridade não é a prática pela prática, mas sim a propagação de nosso ponto de vista, que passa pelas análises políticas e teorias morais, cujas ações práticas, atualmente devem ser os trampolins31. Por isso atribuímos tanta importância à crítica ideológica e cultural do especismo e, em particular, do naturalismo; é por isso que é tão importante nos distanciarmos do ecologismo, criticá-lo, colocarmos em evidência o que nos distingue e nos opõe a ele.
Não pensamos que a crítica, porque atualmente divida ao invés de conciliar, deva esperar dias melhores: a crítica contra a ecologia, por exemplo, nunca impediu os anti-especistas de lutarem contra a energia nuclear ou os carros, etc. Com certeza, a questão da predação é um dos rochedos mais perigosos sobre o qual a liberação animal corre o risco de escorregar, justamente porque ela (a questão da predação) afronta diretamente a ideologia dominante em um ponto extremamente sensível, mas naufragareamos mais cedo ou mais tarde, se ignorarmos este perigo e não formos capazes de aceitar o desafio.
Cito aqui voluntariamente uma pessoa que, como A. Lindberg, C. Elsen e muitas outras, lutam por uma melhoria das condições de vida dos animais, mas contra a supressão da exploração e do estatuto inferior que a ela está ligada. É difícil saber se elas utilizam a referência feita à «Natureza» e à existência da predação para justificar seu ponto de vista especista, ou, ao contrário, se elas são incapazes de sair do próprio especismo pois estão coladas ao naturalismo - e à idéia de que os animais fazem parte desta «Natureza», e estão entregues a «suas leis» (das quais a predação é o emblema).